sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A boca de lobo - Primeiro fragmento

Atirei aquele cigarro que acariciava meus lábios e rasgava a minha garganta, sorvia meus pulmões. Ressequidas baforadas vieram em seguida, acompanhadas de uma tosse lancinante que mutilava minhas cordas vocais. O sangue escorria pela minha boca fétida, os dentes enegrecidos de sangue coagulado, a boca seca. As gengivas passaram a latejar, a pulsar como um ser com vida. Caí de joelhos sobre o asfalto esburacado. Havia chovido a pouco. Olhei-me na poça e não reconheci o que vi. Um líquido pastoso, de cheiro horrível e enegrecido pôs-se a gorgolejar agora das minhas entranhas, das vísceras. Os olhos amarelados de uma languidez ofensiva, esbugalhados, quase a saltar para fora das órbitas. Ainda assim, podía-se distinguir a pureza de suas matizes, intacta... Só fui estuprado por uma centena de maços!

I.B.

3 comentários:

ra.quel passos disse...

Me senti bem com essa experiência. Talvez por ter refletido algo de tão próximo do meu alcance..

Igor Bacelar disse...

Por incrível que pareça, fala sobre amor.

Raquel Passos disse...

E é nítido