segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Caixa Preta


- O balanço se punha a oscilar hipnoticamente enquanto eu mal tinha tempo de compreender o que se passava. Sentia no peito aquele preenchimento que nos embriaga, sabe? Havia duas pessoas do meu lado. Um deles de sorriso cativante, daqueles que nos aquece a alma, o outro de uma gargalhada que beirava ao patético, mas uma pateticidade que nos remete à nobreza, entende? E foi um dos momentos mais felizes da minha vida. "E você estava lá. Você estava lá".

- Entendo. Fico imaginando como deve ter sido esse dia. Não há nada mais de que se lembre?

- Nao é necessário. Nada mais me é. Só precisava desse momento para me recordar das coisas importantes que o tempo levou. Decidi escolher justamente essa lembrança, pois ela me prometia um mundo vasto e destituído de dor. As outras estão no quarto empoeirado logo ali. Mas, nem por isso deixam de ser preciosas. Elas até me dizem mais.

- Não me atrevo nem a espiar pelas frestas. Me é doloroso fitar esse tipo de coisa.

- Você já amou?

- Não existe tal elemento em minha composição. Não há espaço para isso.

- Mas, você pode sentir dor?

- Minha dor chama-se inveja.

Eis que me acordo ensopado em suor. Meu corpo estremecia aterrorizado pelo que acabara de presenciar na minha inconsciência. Mas, que indivíduo mesquinho era aquele a dialogar com... não era comigo! Eu não via a mim naquele sonho. Não! Absolutamente não! Não pude ver a face daqueles que conduziam-me naquele diálogo. O que fazia eu lá? Nada daquilo me era familiar. Mas, aquelas palavras, "e você estava lá. Você estava lá", eram nitidamente dirigidas a mim. O que isso quer dizer? Quem é você? Me responda! Não me deixe a sós com essa dúvida assaz angustiante. Eu quero me lembrar! Não me fujam assim sem aviso prévio. E quem era aquele senhor a falar? Existia algo de grandioso naquele indíviduo. Algo maior do que a minha reles existência, mas de alguma forma, de uma carência mórbida, inexprimível. Quando vamos nos reencontrar?

I.B.

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