terça-feira, 19 de maio de 2015

Ojalá

Ojalá que las hojas no te toquen el cuerpo
Cuando caigan
Para que no las puedas convertir en cristal
Ojalá que la lluvia deje de ser milagro
Que baja por tu cuerpo
Ojalá que la luna pueda salir sin ti
Ojalá que la tierra no te bese los pasos
Ojalá se te acabe la mirada constante
La palabra precisa, la sonrisa perfecta
Ojalá pase algo que te borre de pronto
Una luz cegadora un disparo de nieve
Ojalá por lo menos que me lleve la muerte
Para no verte tanto para no verte siempre
En todos los segundos en todas las visiones
Ojalá que no pueda tocarte ni en canciones
Ojalá que la aurora no dé gritos que caigan
En mi espalda
Ojalá que tu nombre se le olvide a esa voz
Ojalá las paredes no retengan tu ruido
De camino cansado
Ojalá que el deseo se vaya tras de ti
A tu viejo gobierno de difuntos y flores
Ojalá se te acabe la mirada constante
La palabra precisa la sonrisa perfecta
Ojalá pase algo que te borre de pronto
Una luz cegadora un disparo de nieve
Ojalá por lo menos que me lleve la muerte
Para no verte tanto para no verte siempre
En todos los segundos en todas las visiones
Ojalá que no pueda tocarte ni en canciones

Silvio Rodriguez


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Confusão


O desconforto já não pesa tanto. Ele vem e volta com promessas efêmeras de que vai estancar. Vez ou outra escorre o sumo através do meu corpo. Mas, eu já sei suturar a ferida e ela sempre abre uma vez mais. Me entrego à loucura, jogo fora o bom senso, a boa conduta e simplesmente sou. Não sinto culpa alguma pela libertinagem e pela boemia. Pois, são os remédios tradicionais no qual os homens depositam suas batalhas perdidas. E a guerra se prolonga por mais insensata que é para os meus interesses patrióticos.

Eu flerto com o mundo inteiro, flerto com a embriaguez, flerto com a insanidade. Estou flertando, na verdade, comigo mesmo. Saco mais uma vez a arma que está em meu coldre. Restam poucas balas em seu tambor. Mas, preciso mais uma vez disparar contra essa confusão. Dessa vez através do telefone, como usualmente tem sido, dada à sua insistência em cultivar distâncias. É mais fácil aceitar a batalha e odiar o inimigo do que tentar racionalizar o momentum. Nos poupa do sofrimento de assassinar um após o outro. Nos poupa de algum peso na consciência. Mas, para isso, nós temos que acreditar nesta raiva e estarmos dispostos a abraçá-la mesmo quando ela dá lugar a outra coisa mais nobre.

É que os movimentos negativos, a destruição é mais prazerosa a curto prazo. É mais fácil! O positivo é um exercício hercúleo no mundo em que vivemos. Requer sacrifícios gigantescos porque sempre praticamos o caminho oposto. Poucos são capazes de construir. É melhor aceitar a desculpa que nos enfiam goela abaixo e matar logo estes filhos duma puta terroristas e torturadores! "Be a good soldier", they say. Kill, kill, kill!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Saber Viver

Egon Schiele

Não sei... se a vida é curta
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe,
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar...

Cora Coralina

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Waking Life

Sonhos não se opõem ao real. Sonhos são o combustível do real. Eles são a força motriz, a vontade. As substâncias que compõem os sonhos tem uma profunda e obstinada intenção de viver (no real). Por isso eles falam comigo todos os dias, em noites mal dormidas, em manhãs contemplativas, em lapsos de um mundo novo que se apresenta diante da minha cama. Querem existir em uma música (registrada na memória da cultura humana), em um conto, um poema, um desabafo, em uma atitude, em um beijo, em um abraço.

Há também os que não são paridos de nosso intelecto. Os sonhos terrenos, encontrados em padarias, em pradarias, em um sorriso que escapa da alma. Esses sonhos misteriosos, que completam nossas alegrias e acalmam nossos infortúnios. Que nos fazem jurar toda a plenitude do universo em momentos únicos nos quais construímos algo maior do que nós mesmos.

É como aquele conto dos gatos, de Neil Gaiman, no qual certo dia todos os humanos sonharam que não eram mais escravos dos felinos (a raça dominante na ocasião). No outro dia, os gatos amanheceram como animais domésticos e a raça humana triunfava em meio à cadeia evolutiva. O sonho dentre as virtudes humanas é aquela que tem mais vontade e a que conduz todos os espíritos transformadores. O sonho é o real transvestido. Boiando em uma piscina de medos e inseguranças, mas sempre em busca das bordas, com uma vontade maior do que o seu sonhador. Esperando o momento certo para dizer alguma coisa para todo o mundo a sua volta.