domingo, 24 de maio de 2009

*Surtos Poéticos de Duas Mentes Avariadas


A ordem tende para o caos!

Mas se a ordem tende para o caos, o que é a ordem?
O que há de caótico na ordem?
E o que há de ordenado no caos?
É possível separar um do outro ou tudo não passa de ilusões que impomos a nós mesmos para suportar nossa existência: "há uma ordem na minha vida, há um sentido no que faço, existe um objetivo por detrás de minhas ações" quando na verdade a minha vida é um caos, não há qualquer sentido no que faço e muito menos existe um objetivo guiando minhas ações?
Ordem e caos, antônimos ou sinônimos?
Ou nem um nem outro, talvez duas palavras que digladiam ao mesmo tempo em que fazem amor na fronteira entre o sano e o insano?
Por que o caos é tão fascinante e a ordem tão tediosa, e apesar disso procuramos sem cessar um sentido, uma lógica, enfim, uma ordem nas coisas?
Que paradoxais nós somos! Ou quiçá idiotas mesmo?
(eu entenderia isso como uma mensagem de amor. Sem ofensas!)


A ordem é a aranha que está sempre tecendo um emaranhado de teias que nos sufoca e nos cala. O caos é um ser disforme que está sempre parindo algo mutante e livre, preenche nossos sonhos, mesmo que vigiado pela tarântula que nos persegue. Nós não temos tempo para racionalizar tudo de novo e arrancamos nossos olhos para ver o que já fora visto. A ordem nos cala, o caos nos induz a falar. Nós somos vítimas do silêncio, por que o barulho nos incomoda. Evitamos a nós mesmos com medo que o façam da mesma forma. Paradoxais. Somos um, nenhum e todos. Somos o conflito. Somos juízes. Somos a chama que inflama em seu peito. Somos a bandeira que nos diminui o mundo. Tendemos ora para o caos, ora para a ordem, por que a matéria que nos constitui têm forma, ao contrário de nossos espíritos.

Sonho...
Sonho. Caos. Matéria. Forma. Ordem. Espírito.
Percebe a relação necessária entre esses conceitos?
É como se um implicasse o outro e o outro implicasse o um.
Já tentou encontrar uma lógica no que você sonhou ontem a noite?
Nós sonhamos o que somos, e o que somos nós senão matéria, forma e espírito? "Tendemos ora para o caos, ora para a ordem, porque a matéria que nos constitui tem forma, ao contrário dos nossos Espíritos." Então, seria nossos Espíritos o contraponto com a matéria e a forma, em suma a ordem seria, portanto, o caos?
Não creio. Penso que o Espírito transcende os conceitos de ordem e caos.
The Spirit within is beyond the Great Wall.
Ele estava aqui antes de a matéria e a forma se constituírem.
Ele estará aqui depois que a matéria e a forma perecerem...
O Espírito precede o Verbo e a ele sucederá.
O Espírito é.
O Espírito é sendo. Uma imagem de difícil apreensão (ou seria compreensão? é possível capturar uma imagem numa jaula?).
O Espírito está além da ordem.
O Espírito está além do caos.
Ele está além da forma.
Está além da matéria.
E nós, nós pobres coitados (ou podres afortunados?) famintos por matéria e não-matéria, somos Espírito.
Estamos além da ordem?
Estamos além do caos?
Estamos além da matéria?
Estamos além da forma?
Se o Espírito está na nossa essência e o Espírito é inapreensível, incompreensível e indefinível, como compreender-nos, como apreender-nos, como definir-nos?
“Ser ou não ser, eis a questão”


...
Procuramos encontrar a resposta além de nós mesmos, e nos equivocamos ao confundir-nos com um nome, uma qualidade, um feito, uma posição social... Ou nos confundimos com a latência de nosso ser. Olhe para si mesmo e verá que tudo isso em conjunto é parte de algo delimitado para você e por você. Quem sou eu? Eu estou dentro de você.
Eu.
Sou.
Eu.


É difícil acreditar que sou limitado.
Todo ovo é aparentemente fechado, a princípio.
Porém, o que não vemos é que dentro dele algo está inquieto.
Uma vida está se formando.
Um ser está surgindo.
Um ser que não suportará o claustro e destruirá qualquer barreira que se interponha entre ele e o mundo.
Esse ser não conhece limites.
Do seu gênio, qualquer coisa pode surgir.
Coisas que nem mesmo ele jamais previu.
Coisas que só serão quando forem.
Admitir-se que existem limites traçados para você é outra forma de admitir sua sujeição aos padrões, ao Ser Supremo, ao fascismo social.
Admitir-se que seus limites são traçados por você mesmo é uma perspectiva um tanto conformista e absurda, diga-se.
Como pode você traçar seus próprios limites se nem mesmo você sabe do que é capaz?
Somente poderemos nos impor limites quando nos compreendermos, quando nos apreendermos, quando nos definirmos.
Nós somos Espírito; e o Espírito está além da compreensão, da apreensão, da definição.
É só uma questão de tempo até que ele rompa o claustro que o encerra e se manifeste.
Tempo...


Creio que você não entendeu a mensagem. Está claro como uma nuvem de dia quente. O que você fez foi sintetizar algo que estava subentendido, nas entrelinhas. Quando eu falo "confundimos", eu nego a certeza, nego a razão e deixo a ignorância e a arrogância em negrito. Por que todo conhecimento é conhecimento do homem, já o mundo, ele é infinito.

Eu entendi muito bem o que você quis dizer, e com sua última fala você apenas reforçou o que eu não quis dizer: "Por que todo conhecimento é conhecimento do homem, já o mundo, ele é infinito”.
É aqui que reside o problema: o homem é infinito, o mundo, finito. O homem é Espírito, o mundo, matéria.


E aí nos inquieta essa dualidade. De um lado temos a certeza de que o homem é finito dentro de suas condições de cidadão universal, e do outro a certeza de que ele seja um ser de infinitas possibilidades. Imagine que o universo seja o seu corpo, você perde um braço, isso causará uma perda irreversível, mas, com o tempo seu corpo e sua mente terão que se adaptar às novas condições. O que nos faz pensar que somos infinitude, se fazemos parte do todo? O que seria infinito, nossa capacidade de questionar o mundo ou a capacidade do mundo de nos inquietar? O homem é parte do espírito universal ou o universo é parte do homem? Talvez esse mundo finito que vos fala, esteja dentro da concepção de mundo do homem, limitada por sua capacidade unilateral. Por que tudo que sabemos, foi sabido pelo homem. Nossa consciência nos prende a essa unilateralidade pensante, por que os pássaros e os elefantes, vivem em um mundo totalmente diferente do nosso, embora no mesmo. O mundo sim, ele é infinito. Concordo até certo ponto com sua teoria, mas ela se choca simplesmente por causa do ponto de partida.

P.M. e I.B.

(algum dia do final de 2007 ou início de 2008)

*Sem revisão ortográfica. Muito do que foi escrito nesse diálogo, já deve ter sido superado. Ele se iniciou com uma perguntinha fundamental: quem sou eu? A partir daí, nos interessamos em destrinchar os pormenores do espírito, sem pretensões de encontrar alguma resposta, mas, pelo contrário, mais perguntas.

Um comentário:

tatiana hora disse...

"Ou nem um nem outro, talvez duas palavras que digladiam ao mesmo tempo em que fazem amor na fronteira entre o sano e o insano?"

perfeito!