Um Espaço Imaginário onde a Voz dos Loucos soa mais Forte... Um Espaço onde Ariel e Caliban estarão eternamente a digladiar...
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Devaneios quiméricos de um bêbado - O Gato (conto inacabado)
Ergui aquela garrafa e brindei para o céu noturno. Pus o gargalo em meus lábios e sem mais cerimônias pus-me a sufocar um dia inteiro de infortúnios, "pra que preciso deles"? O cheiro já me causava náuseas, mas o sabor era nostálgico, de tempos bons. Era um paradoxo estar tão próximo do abismo no momento em que eu tragava cada gole para me afastar do mesmo. Aquele cheiro haveria de ser ignorado, a cada golada, a cada investida. Arremessei aquela garrafa no muro mais próximo sem ao menos ter acabado e me deitei no chão frio e pouco acolhedor, enquanto os cacos de vidro esvoaçavam-se pelo chão, despedaçando-se ensurdecedoramente. Com a vista embaçada e o mundo a girar em uma roda gigante à cem por hora, ousei levantar do meu leito gelado (ou seria eu quem estava cedendo calor para o meio?). Andei sem rumo por ruas e mais ruas acompanhado por cães que reviravam as latas de lixo, até que me deparei com um gato no meio de uma avenida solitária. Vomitei tudo que havia bebido e até um pouco mais, mas não lembro de ter ingerido algo além de vinho para vomitar. O felino estava sentado do mesmo jeito como se estivesse achando graça ou sentindo pena daquilo tudo. De qualquer forma ele via algum interesse naquele espetáculo etílico. Olhava para mim como se enxergasse além de olhos, além de uma face cansada, debilitada pelas várias noites mal-dormidas. Era desconcertante, me causava arrepios e até mesmo vergonha, tinha um sentimento de que em seus próprios olhos de gato, ele abrigava uma espécie de janela para, pasmem, o outro mundo! Eu podia sentir aquilo! Minhas pernas pararam de se mover...
Acordei em um quarto minúsculo que eu não poderia ficar em pé, o teto era muito baixo, parecia uma casa para anões... A portinha estava fechada. Minha cabeça latejava e minha boca tinha um gosto amargo de ressaca. Meu estômago se remexia como se quisesse fugir daquela cela que o comprimia, o meu corpo. A porta se abriu e por um bom tempo nada passara por ela fora a corrente de ar fria, até que um gato sobre duas patas se projetou porta adentro. Parecia o que eu imaginava ser o gato de botas ou qualquer criatura vinda dos contos da Carochinha. Foi a coisa mais horripilante que vira até então.
(...)
29/01/09
I.B.
Pintura de Marion Peck.
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