sexta-feira, 3 de abril de 2009

Devaneio de uma sala vazia I


"Fiquei numa sala vazia. E parece-me que foi Ludvik que ordenou que eu ficasse sozinho. Pois não são os inimigos, mas sim os amigos que condenam o homem à solidão."

O que buscavam aqueles sorrisos? No outro dia eles não estarão mais ali, serão apenas bocas fechadas e olhos a fugir de você. Bocas fechando e olhos fugindo. O que buscavam aqueles sorrisos? Me sentei na beira da calçada me sentindo bastante confortável e acolhido pelos sorrisos, mas vi de relance os dentes denunciando sua motivação. Eram tantos ali, amontoados, sem querer dizer nada ou sem ter o que dizer. O que buscavam aqueles sorrisos? Amanhã eles não estarão mais ali e levantarei meu sorriso sincero sem resposta, em vão. Desperdiçando minha alma. Mas não só os sorrisos condenam os "sorridentes". Os olhos fogem, evitam, me machucam tanto. E eu sempre a sorrir, como um palhaço, forçado a sorrir, condenado a sorrir, desgastando meu riso. O que buscavam aqueles sorrisos? Muito provavelmente estão afoitos para tomar de mim o meu próprio riso, torná-lo rijo. Arrancar de meus olhos a seiva que os nutre e bebê-la para se alimentar de sua vitalidade a definhar. Eu que sempre fui um risonho, desconheço o que é o riso, dos olhos, da boca, da gente.

Mas eu me mantenho de pé, vacilando, aquela figura está ali do outro lado da mesa, seus olhos a perscrutar minha feição angustiante, e seu sorriso com o canto da boca é uma sentença. Falta pouco para me oferecer aqueles papéis de letras confusas. Falta pouco para eu firmar aquele nome que me foi dado, em garranchos, naqueles papéis. Em garranchos. E tudo se acabará em gargalhadas. Em garranchos!

I.B.

Nenhum comentário: