sexta-feira, 27 de março de 2009

Devaneio de um futuro incerto I


Éramos quatro naquele carro espaçoso. Percorríamos uma larga e comprida rodovia, de um lado cercada por florestas caducifólias e de outro margeando um lago de proporções oceânicas que prosseguia indefinidamente por nossa trajetória pela estrada, como a lua onipresente nos sobrevoando pela noite independentemente para onde formos. Eu estava perdido em pensamentos nostálgicos à mercê de uma agonia muito intensa, um chamado das profundezas da vaziês de meu ser. Em um lapso de consciência dirigi minha atenção a um bando de pássaros que deslizavam calmamente pelo céu. Não me recordo se eram gaivotas ou pombos, mas lembro nitidamente a cor: branca como as nuvens de um dia brando. Minhas atenções se voltaram para um casal que se separou de seu bando, como que convictos de sua trajetória. Não eram proscritos, perdidos, eram simplesmente livres. Exprimiam isso pela desenvoltura de seu vôo despreocupado. Senti as profundezas de minha alma sacudir meu estômago e uma súbita melancolia alfinetar cada poro de meu ser. Olhei para o lado e avistei aquele sorriso a dez polegadas de mim. Era apenas um sábado. Me pergunto se porventura esses pássaros voltarem para o seu bando...
Eles ainda terão um nome?
I.B.

(pintura de Chen Kong)

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