sábado, 1 de novembro de 2008

O disparo

Como se uma mão apertasse minhas entranhas, eu gemia de dor, de frio. Podia sentir o convite da morte se apresentar como um vazio que me abraçava para apaziguar o sofrimento. Meus pensamentos se mesclavam ao corpo desfalecido. Eu já não estava lá. Uma névoa misteriosa brotou do meu último suspiro. Eu me perguntava se havia morrido finalmente, mas era algo contraditório de se pensar tendo em vista que eu ainda estava consciente, ou quase. Se não fossem os olhos, eu perderia a capacidade de perceber o mundo à minha volta. Pois eu era incapaz de sentir, ouvir... Estava em um estado letárgico, vegetal, sentia que algo aconteceria em instantes e ainda assim não podia prever se seria a morte. Àquela altura já havia perdido a noção do tempo e não poderia dizer se aqueles meses como um cárcere do monte Cáucaso se passaram em um segundo. Asseguro-lhes que a pior sensação que nos pode ser acometida, é a da impotência. É a única ocasião em que forças alheias são incumbidas de nos guiar. No meu caso, arrastado pelos dedos austeros do destino, incapaz de caminhar com minhas próprias pernas. Esse castigo é pior do que a morte. Esta carícia agônica e tão íntima... Que esboçava um sorriso epiléptico e doentio em minha face moribunda. Eu estava vivo...

I.B.

Nenhum comentário: