O que escrevo agora, nesse momento, não são palavras, são lágrimas. E para acompanhar esse estridente guincho que escapa da minha caneta esferográfica, chove do lado de fora. Estou sentado em uma cadeira de madeira maciça, na varanda de uma casa de ares idílicos no meio dos campos esverdeados de uma província distante. Posso sentir a umidade e o cheiro bruto e cru da natureza. Ouço os pássaros, tão magníficos quando em sintonia com sua morada natural. Decidi vir a esse lugar para justamente pôr um fim à minha vida miserável. Peguei-a emprestada de um amigo meu, ás vezes me arrependo de profanar esse lugar tão puro e acolhedor com o meu sangue. Mas, o que está em jogo é a minha própria carcaça também. Pois bem, será aqui mesmo. Estou pensando nisso há uma semana e fico aliviado por finalmente ter decidido. Descobri que amo demais a vida e justamente por isso me é impossível viver nessas condições. Sem mais delongas... O que escrevo agora é tingido com o meu sangue.
20/06/09
(...)
E pensar que estava tão ansioso... Não houve resposta ao meu chamado naquela madrugada, só silêncio, silêncio agourento. Uma carapuça estava em minhas mãos. Eu sou o meu próprio algoz. Mas dessa vez nenhuma ordem haverá de ser seguida. O silêncio foi cortado pelo brandir do aço, varou a carne, o couro, o concreto gelado. Varreu a vida que gorgolejava em jatadas de sangue. Sangue escuro, denso. "O sangue nunca mente". Percebi tarde demais que não foram minhas mãos que empunharam aquela lâmina enferrujada. Atrasado para o meu próprio suicídio, eu chorei uma última vez. Roubaram de mim até a última gota de...
(...)
I.B.
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