quinta-feira, 30 de julho de 2009

Mãe


Os estilhaços estavam espalhados por todos os lados inclusive nos corpos das pessoas. O fogo se alastrava para todos os lados e se insinuavam para mim. Sentia um cheiro horrível de carne queimada enquanto recobrava meus movimentos. Cheiro de morte. Não sabia ao certo o que havia acontecido, mas podia ver que o vagão onde eu me encontrava fora arremessado a centenas de metros dos trilhos. Não havia muito tempo para que o cheiro de carne queimada fosse a ser o meu próprio, então me levantei.


O choro ecoava por todo o vagão, mas era daquele tipo que não vem de nossas gargantas. Choro das entranhas, choro de dor pungente. Era um bebê. Encontrava-se firmemente seguro contra o peito de sua falecida mãe. A mulher fora atingida por uma placa de metal bem na cabeça e provavelmente sucumbiu tão rápido quanto tudo aconteceu. Foi tudo tão rápido quanto um piscar de olhos e ainda assim abraçou firmemente o seu filho. Éramos os únicos sobreviventes desse acidente.


Foi complicado desvencilhar a criança dos braços enrijecidos da mãe, mas consegui. No momento em que o retirei de seus braços tive a impressão de que ela abriu os seus olhos e os direcionou à mim obstinadamente. Estavam arregalados e pareciam me analisar minuciosamente. Senti um frio desconcertante na espinha, mas me apressei em tirar a mim e o pobre orfão com vida daquela fornalha rubro-cinzenta. Mesmo de costas enquanto me afastava em direção à saída, pude sentir seus olhos me seguindo, sua presença.

Nog abriu os olhos e a luz do dia o cegou. "Mas o que era tudo aquilo?"
I.B.

(essa é a capa de uma edição do famoso livro de Górki)

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