-Hoje à noite haverá uma festa lá nas docas. Será inesquecível, Nog.
-Podem confirmar minha presença lá.
Meteu a mão em seus bolsos e pôs-se a caminhar chutando as latinhas que haviam espalhadas naquela calçada suburbana. Não havia muito a se dizer sobre aquele dia. Era um dia comum, de pessoas comuns, com uma história comum. Nog já estava habituado a isso. Na verdade, quem não está? Existem dois tipos de pessoas: as que estão e as que não estão. Creio eu, que a segunda categoria é a daqueles poucos, aqueles que pulsam, que sofrem, que vivem. Mas, o restante faz o que então? O restante já cansou disso ou nem teve a sensibilidade para captar a "mundanice" diária. Nog se cansou há muito tempo.
Meteu a chave na fechadura e abriu a porta do seu apartamento. Dividia o seu "lar" com seus pais e irmãos. Quando estavam todos reunidos, aquilo era um verdadeiro caos, um pandemônio. As relações familiares eram sempre acompanhadas de intrigas e discussões, mas apesar de todas as infelicidades, Nog tinha orgulho de dizer que ali era a sua casa, o seu abrigo das tempestades, das intempestividades. O lar é o refúgio do homem, seja ele onde for.
Só precisava comer a refeição que sua mãe havia preparado algumas horas antes e pegar o metrô para seu trabalho improdutivo. Nog fazia alguns bicos para uma empresa pequena de propaganda. Fazia os serviços mais insignificantes que você pode imaginar. Não teve uma educação tão boa, mas não por falta de oportunidade, mas por preguiça. Certa vez, me deparei com um questionamento acerca do espírito humano que era o seguinte, "é medo ou preguiça que inibem o crescimento do gênero humano?'' Não consigo ver de outra forma: Nog é um preguiçoso.
Não quero prolongar demasiadamente nesses pormenores, pois quero apresentar-lhes esse caso insólito. Tudo começou...
I.B. (após um surto epiléptico)
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