terça-feira, 4 de agosto de 2009

O mundo perdido de Nog Parte-II

"You can only know yourself when nobody knows you."

Nunca entendi bem essa afirmação, embora foi a primeira coisa a qual pensei antes de lhes contar o que ocorreu. Claro que existem uma série de razões para reprovarmos certos aspectos negativos das relações sociais, eu mesmo tenho muito desse veneno correndo em minhas veias, mas, muito do que sei (ou tudo) foi conquistado através de uma série de trocas sociais. Sei que sou ,pois existe um outro que é. Sei que sou mal, pois existe um indivíduo que não o é. Meras convenções que preenchem o copo vazio que fui. Não! Não fomos vazios. Como pude me esquecer das predisposições? O que seriam elas? Será que existe uma consciência independente? Ou somos um cassino orgânico onde todas as possibilidades do que me é, sejam meras "jogadas probabilísticas"? Adoro como soa essa teoria.

Vou contar-lhes uma pequena história antes de tentar retratar o infortúnio do pobre Nog. Uma simples história, pois as simples histórias nos falam mais. Estão fora de moda, mas, são indiscutivelmente irredutíveis (por serem simples). Não existem arrodeios. Ela é o que é. São um retrato da vida... Não! A vida pode ser apreciada a partir de tantas óticas contraditórias... São os olhos que a complicam. É simples, porém tantos olhos a olham que sua primitividade é despercebida. A vida só é simples quando ninguém percebe-se inserido nela. Histórias simples são como cagar na privada ou cortar o cabelo que está lá por sete anos sobre o seu crânio, simplicidade irredutível. Aposto que arranquei algumas risadas através dessa afirmação minimamente escatológica. É como cagar, pois nascem de um impulso natural do gênero humano: o de contar histórias. Alguém já ouviu falar de Deus? Oh, me crucifiquem. Podem me chamar de cético, mas entrego-lhes de antemão que não o sou.

Já ia me esquecendo da história. Perdoa-me meu caro Nog, eu chegarei lá. Juro que serei lacônico. Aliás, que isso sirva como uma prévia do que contarei em breve. Pois bem, havia esse rapaz que andava pela mata. Estava embrenhado naquela selva inóspita acompanhado por seu pai. Se afastou um momento para aproveitar um pouco das sensações do mundo selvagem a sós, quando achou uma cobra visivelmente destacada sobre a restinga. Esqueci de dizer que o rapaz era sozinho, não era de muitos amigos. Gastava horas e horas conversando com objetos inanimados e animais em sua infância. Aliás, seu camarada preferido nos tempos de esquizofrenia saudável, era um botão de uma camiseta que caíra certa vez. Quão encantador, não é mesmo? Belo espécime!

Conversou horas a fio com a cobra. Estava tão entretido com aquele diálogo...Sentiu simpatia por ela. Eu particularmente discordo quanto a cobra ser o retrato do demônio nos escritos bíblicos. São criaturas magníficas. Sua dança hipnotizante, a sensualidade... Quem disse que isso é sinônimo de malevolência? Seria o bote? O veneno? Homens também o fazem e com primorosidade. A chave da questão deve estar no fato de elas se rastejarem. Preciso ler a bíblia ou reavaliar a questão por um ponto de vista histórico. Talvez houvesse um indície inumerável de vítimas por picadas de cobras no período que compuseram o livro.

Sem mais delongas...

O rapaz estava tão entretido com a conversa, que mal percebeu a imobilidade do réptil. Seu pai o surpreendeu (involuntariamente) naquela clareira e nem percebeu o que se desenrolava. Estava descuidadamente despreocupado, desatento ao que não fosse a vastidão daquela planície. Sequer se deu ao luxo de ouvir o que se passou. O rapaz calou-se imediatamente. Seu pai foi até a cobra e a pegou em suas mãos, "olha, essa acabou de trocar de pele. Um pedaço inofensivo de velhas escamas agora."

I.B. (na ociosidade da noite)

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