sexta-feira, 27 de março de 2009

Vestes íntimas


Falavam sobre as dores do homem, sobre as mazelas que lhes eram acometidas, sobre as correntes... Cada pedaço de lágrima lhe roubava um pedaço de sua máscara mais íntima. Eram um homem e uma mulher, opacos e reciprocamente transparentes... Chorando pela decadência do espírito humano em progressiva degradação. A cada gota ele lhe roubava um pedaço de suas vestes íntimas, com a boca, com o estômago e ela sorria como se aquele ato lhe fosse uma promessa da união da carne, do espírito... Existe maior comunhão entre dois indivíduos do que compartilhar de suas dores? Ele se apropriava de suas lágrimas como que para poupá-la de tanto sofrimento. Absorvia-as, digeria-as. Ele se envergava, se contorcia, sentia um gosto amargo que subia de suas entranhas e mirava aqueles dentes tão sinceros... Sua boca se abriu extensamente e do cerne de seu ventre proferiu um grito silencioso. Não havia mais nada a se ouvir, ver... Até o último pedaço das vestes íntimas.

"...e o brilho do teu riso
é mais
quente que o sol do meio-dia..."


I.B.

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