segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sem tapinhas nas costas ou algo do tipo

Havíamos cortado uns 700 km rumo ao sul em uma tentativa de redescobrirmos a nós mesmos... Ás vezes quando acordávamos em motéis de beira de estrada, esquecíamos de quem nós éramos. Optamos por vivenciar os fatos presentes sem nenhum calculismo ou remorso. Uma verdadeira cruzada jazzística por entre trastes desconhecidos e timbres melodicamente misteriosos. Toda vez que a via olhar para as estrelas sob qualquer céu de qualquer lugar dessas estradas esburacadas, lembrava que não estava tão distante de casa quanto pensava... Embora estivéssemos jogados à sorte, estávamos mais felizes do que nunca. As pessoas não se dão conta do quanto são infelizes até que provem da liberdade. E nós tínhamos o nosso gole secular! Nós havíamos pegado carona com um daqueles sulistas simpáticos e conversadores até uma cidadezinha que não me recordo o nome e paramos em um posto de gasolina. O odor nostálgico de óleo diesel e graxa e o som de motores rufando já foi mais que o suficiente para nos despertar fome. A fatídica última refeição! Após termos rapidamente comido aquele típico jantar caipira, fomos tomar banho e prosseguir viagem com nosso carona sulista, eu me dirigi ao banheiro dos homens e ela ao feminino. Eu saí e esperei, geralmente as mulheres demoram mais a sair, o caroneiro avisou que sairia dentro de 15 minutos e infelizmente não pôde esperar as horas que eu fiquei por lá. Nenhum sinal dela, já havia checado o banheiro feminino centenas de vezes, ninguém sabia de seu paradeiro. Passei exatos três dias imaginando todo tipo de coisas que poderiam ter acontecido... É uma dor muito grande quando você em uma hora tem tudo e na outra perde tudo. É como se um vazio muito grande tomasse conta de seus pensamentos e seu estômago responde de uma forma inebriante e sem aviso, lembrando-o do quanto é miserável. A princípio pensei que ela tivesse sido vítima da perversidade humana alheia, mas quando derrubei a última lágrima, foi o suficiente para congelar um vulcão. Passei então a duvidar de sua fidelidade a mim. A dúvida... Esse monstro que nos mordisca até que não reste nada...
I.B.

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