Sonhos não se opõem ao real. Sonhos são o combustível do real. Eles são a força motriz, a vontade. As substâncias que compõem os sonhos tem uma profunda e obstinada intenção de viver (no real). Por isso eles falam comigo todos os dias, em noites mal dormidas, em manhãs contemplativas, em lapsos de um mundo novo que se apresenta diante da minha cama. Querem existir em uma música (registrada na memória da cultura humana), em um conto, um poema, um desabafo, em uma atitude, em um beijo, em um abraço.
Há também os que não são paridos de nosso intelecto. Os sonhos terrenos, encontrados em padarias, em pradarias, em um sorriso que escapa da alma. Esses sonhos misteriosos, que completam nossas alegrias e acalmam nossos infortúnios. Que nos fazem jurar toda a plenitude do universo em momentos únicos nos quais construímos algo maior do que nós mesmos.
É como aquele conto dos gatos, de Neil Gaiman, no qual certo dia todos os humanos sonharam que não eram mais escravos dos felinos (a raça dominante na ocasião). No outro dia, os gatos amanheceram como animais domésticos e a raça humana triunfava em meio à cadeia evolutiva. O sonho dentre as virtudes humanas é aquela que tem mais vontade e a que conduz todos os espíritos transformadores. O sonho é o real transvestido. Boiando em uma piscina de medos e inseguranças, mas sempre em busca das bordas, com uma vontade maior do que o seu sonhador. Esperando o momento certo para dizer alguma coisa para todo o mundo a sua volta.
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