terça-feira, 17 de setembro de 2013

Concerto em uma casa de show no meio do nada relatada por uma figura onipresente que estava distraída demais para dar vida aos acontecimentos absurdos que se desenrolaram

Tudo estava preparado para o show daquela noite. Os músicos caminhavam pelo espaço contemplando o vazio e tomando cerveja aguada. O baterista e o tecladista se afastaram e foram fazer qualquer coisa no banheiro. Voltaram elétricos e inspirados. Literalmente inspirados. O vocalista sentou-se no palco e garranchou o setlist daquela noite enquanto o baixista aquecia seus dedos com exercícios costumeiros pré-concerto.

Há apenas meia hora de começar não havia sinal de platéia alguma. O que começou a preocupar a banda. Aliás, o lugar todo parecia um vasto salão abandonado onde só havia eles, uma lâmpada em forma de gaiola, um furgão velho, suas distrações e mais nada. O cantor se dirigiu à portaria assobiando qualquer melodia improvisada e não havia ninguém do lado de fora. Aliás, só havia aquele estabelecimento fincado no meio de uma planície desértica.

Sentaram-se no meio fio que separava a casa de show da noite desolada como cinco pássaros em um poleiro. Cinco passarinhos que já não cantam mais. Miraram o horizonte em silêncio e cada um acendeu um cigarro oferecido pelo baixista. Os últimos cinco cigarros.

Subiram no palco. Tudo já estava plugado, conectado, preparado para a apresentação daquela noite. A luz se apagou e um minuto de silêncio foi cortado por um mi menor que soou por uns cinco segundos. É hora do show!

Conforme a primeira música era executada por aqueles cinco sujeitos, movimentos curiosos aconteciam no meio do escuro. Como se o próprio escuro estivesse se mexendo, embalado pelo ritmo da música. A reverberação dos sons começou a mudar, os ecos se tornaram ocos, os acordes mais sólidos para se ajustar à comoção que acontecia lá embaixo na platéia. Um público composto por sombras humanóides que dançava obedientemente à cadência da música.

Quando havia aquele "silêncio" por parte da banda de uma composição para outra se ouvia as vozes de baixo daquelas criaturas esquisitas que se desenrolavam com um sotaque meio oriental com algumas sílabas guturais. Findada a apresentação, a lâmpada se acendeu novamente.

Os músicos se entreolharam e começaram aquela velha rotina de desmontar toda a estrutura de show e levar tudo para a velha caranga. Estava frio lá fora e os músculos cansados. Depois de empilharem tudo no furgão, sacaram aquela velha garrafa de whisky esquecida no tapete do carro e revezaram as tragadas enquanto o cantor do grupo assobiava alguma melodia familiar e recente. Um solo convincente talvez. O guitarrista sacou o violão e a noite perdurou cheia de vida, no meio daquela planície sozinha.

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