quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Renascimento

Sinto que perdi a potência criativa de outrora, imerso que estava na concepção de um texto pleno de tecnicismos e carente de poesia... Por mais de um ano, talvez, nem uma linha sequer se desenhou a partir da ponta do meu lápis, mesmo que dançando tropegamente e insegura no escuro. Sim, porque a poesia é como a dança, puro movimento e imagem. Nada... Os surtos rarearam até cessarem por completo.
Hoje, meus dedos enferrujados tateiam no escuro em busca das teclas corretas, hesitando antes de cada palavra, como se temendo o equívoco. Falta-me aquela certeza de outros tempos de que, em poesia, não existem equívocos. Mesmo o erro aparente não é senão mero exercício da liberdade de poetar (ainda que inconsciente). Porém escrevo.....
Sinceramente, causa-me certa estranheza o ímpeto que me acometeu, inesperadamente, de fazê-lo. Há muito tempo não experimentava tal sensação....
Não sei, uma série praticamente interminável de contrariedades tem me sido ofertada, como que um presente. Algo como encontrar Ariel nas primeiras linhas de um longo livro para, já na página seguinte me deparar com Caliban. Como a dualidade é angustiante! Angustiante porque não é possível entregar-se nem a um nem a outro. Ambos, simultaneamente, pretendem me consumir, sem atentar, porém, para o fato elementar de que o meu corpo é materialmente limitado. Antes fosse apenas espírito....
O material se quebra com uma facilidade que, consciente ou inconscientemente, preferimos ignorar. Quão frágil nós somos...? Contudo, o certo é que o golpe mais duro é aquele que não se atenta para a carne, buscando, fundo, atingir a alma. Este sim, é insuportável! A alma grita loucamente, em agonia, enquanto, mirando no espelho em sua frente, vê a miragem da face de Caliban emergir emoldurada da superfície fria e morta. E, em meio à agonia, se regorjiza enquanto observa Ariel executar suas piruetas ao longe, por detrás da dor. Quanta contradição! Não apenas o corpo se aquebranta como também a alma.... Eis que perece o ser, quando sequer o pensamento ousa persistir.
Preenchido, então, o requisito essencial para o renascer!

P.M.

2 comentários:

Two Wrecked Minds Full of Thoughts disse...

O hiato lhe deu uma expressão renovada e fluida.

Two Wrecked Minds Full of Thoughts disse...

Hiato.... belo título para a nova postagem!