Flutuava, simplesmente, como um balão preenchido por um imenso vazio
Cada vez mais alto, levado pelos ventos rumo aos céus
E, com certeza, lá teria chegado se não fosse por um fio
Um finíssimo e frágil fio preso aos meus calcanhares
Que me mantinha ligado ao mundo
E porque tão fino e tão frágil
Um homem lá embaixo
Não precisou de muito esforço para cortá-lo com uma tesoura cega
Não sei qual o motivo para tê-lo feito
Não sei mesmo se houve um motivo qualquer
Apenas o fez
E com essa mesma tesoura cega e com a essa mesma facilidade, esse mesmo homem perfurou o Eu flutuante
Desesperadoramente fui expulso de mim com uma força irresistível
Deixei-me para trás
Cada vez mais distante daquele monte de trapos rotos com os quais vestia minha alma
Surpreendentemente, porém, como nunca antes, senti-me livre
E, livre, alcancei os céus, e além
E, livremente, me perdi
Perdi a consciência de mim
Os trapos caíram em direção à terra
- Não seria mero vazio talvez o que me sustentava no ar, mas a plenitude -
E vieram repousar sobre os ponteiros de um enorme e antigo relógio
E lá mesmo ficaram, através dos tempos
Até que, como um bandeira gasta e velha
Não suportaram as investidas das estações
E desmancharam-se no ar...
P.M.